segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

PENSE NUM CARNAVAL PASSADO NO BRASIL…

Este carnaval foi um inferno pro meu amigo Vavá. Logo no sábado de Zé Pereira caiu de cama. Gripe de lascar. Não tinha uma assim desde que saiu rebocado de Guarabira até Campina, fugindo para não casar amarrado porque buliu com moça alheia.
Pior foi a gripe adiar o passeio com a família no carro zero que comprara há pouco. Mas, pai extremado nos afetos aos filhos e à esposa, não resistiu quando o filho mais velho pediu para dar uma volta com o irmão do meio.
Deu a chave ao menino, apesar do ciúme do carro novo. Depois disso, pegou o chã de cidreira, uma aspirina, emborcou os dois e voltou pro quarto. Deu tempo nem do comprimido fazer efeito. O interfone toca e ele se arrasta até a cozinha para atender.
“Pai, dá pro senhor descer aqui na garagem”. Era o filho, o do meio chamando com voz de “aconteceu uma desgraça!”. Vavá deu um suspiro, duas tossidelas e chamou a mulher, que estava botando o mais novo pra dormir.
- Gi, vai ali na garagem ver o que aconteceu. Os meninos tão chamando.
Ela deixou o guri chorando e foi. Ao chegar, o do meio foi logo mostrando: “Mãe, o carro arranhou aqui de lado, ó”. A mulher ficou possessa. Deu vontade de tirar o chinelo e dar uma pisa nos danados ali mesmo, mesmo os filhos sendo uns tremendos varapaus.
- Como é que vocês me fazem uma coisa dessas? A gente compra um carro com tanto sacrifício... Cês têm pena não, é?
O mais velho ainda tentou argumentar que esbarrou na pilastra porque não estava acostumado com a direção hidráulica. “A bicha enrolou de vez”, disse, sem alcançar os ouvidos da mãe,porque ela já rebatia berrando com um “Quero saber não!”
Os três voltaram ao apartamento. Gi deu a noticia. Vavá recebeu como quem já sabia. “Quarta-feira levo pra oficina. Até lá, o carro fica na garagem e não sai pra canto nenhum”, anunciou.
“Canto nenhum uma pinóia! E o passeio que prometi a Lelinho, hem? Home, só fez amassar a lateral. Ta nem encostando no pneu. Dá pra rolar perfeitamente. Quero nem saber. Amanhã vou levar Lelinho na praia, viu?”, reagiu a esposa.
Vavá puxou todo o ar e catarro que havia nos pulmões, pigarreou bem alto, botou a maior cara feia do mundo, mas não fez o menor efeito. Gi encarou e sustentou.
Além da gripe não deixar o sujeito dormir, Gi roncando deixava menos ainda. Ele só conseguiu adormecer com o dia já claro, mas o celular lhe acordou três horas depois.
- Mô, olha, nem sei como te dizer uma coisa dessas...
- Que molesta foi que aconteceu dessa vez?
- Acho que roubaram nosso carro.
- Como assim? Você acha? E onde diabo você está?
- To aqui na praia. Esqueceu, foi? Eu num disse que vinha com Lelinho? Os meninos também estão aqui comigo.
- Ai, meu Deus, era só o que me faltava. Espera aí. Peraí que vou botar uma roupa e vou pra aí. Onde é mesmo que vocês estão?
Vavá pediu socorro e carona ao cunhado, que mora no mesmo prédio. O cra foi, mas foi contrariado, resmungando. No meio do caminho, toca de novo o celular.
- Mô, o carro num foi roubado não. Foi o reboque que levou.
- Come quié?!!!
- Olha, Môzinho, juro que não vi, mas foi porque estacionei na frente da garagem dum cidadão aqui, aí ele ligou pra Policia...
Vavá pegou a família na praia e tirou para a sede da Companhia de Transito, quase 20 km distante de onde estavam. Lá, só encontrou um guarda. Que não deixou entrar para ver o crro e avisou o dono para voltar depois do carnaval.
- Ficar sem carro até quarta-feira? De jeito nenhum!
- Acho melhor vir na quinta, porque na quarta o capitão no vem aqui nem a pau.
Vavá não agüentou o jeito do Policia Militar falar. Engrossou. Gi tentou acalmá-lo, mas ele não quis conversa. O Guarda também não. Foi lá dentro de chamou pelo radio. No deu cinco minutos, riscou uma viatura.
Dela desceram dois soldados e um sargento, que foi logo mandando Vavá ir embora. “Vou na hora que eu quiser, viu? O senhor tápensando o que?”.
- Recolhe! – ordenou o sargento, nunciando prisão “por desacato”.
Deu trabalho soltar. Foi dureza achar por telefone um amigo influente do preso em pleno domingo de carnaval. A busca custou a Vavá uma tarde inteira na sala do delegado, aguardando contato com o deputado amigo que Gi e o irmão dela ficaram tentando lá fora.
Finalmente liberado, Vavá e família voltaram pra casa. Mas não conseguiram entrar no apartamento de imediato. Uma chave da porta ficara no chaveiro do carro; a outra esquecida na Delegacia, onde o agente que recebeu o preso o mandou esvaziar os bolsos.
Voltar lá, nem pensar, foi avisando o cunhado. Chama um chaveiro, então, sugeriu a mulher. “A essa hora, domingo de carnaval? É ruim , hem, mãe?, disse o filho mais velho.
- Você cale essa sua boca, que ninguém lhe chamou aqui – ralhou Gi.
- Eu vou é arrombar essa ‘porra’ dessa porta – resolveu Vavá, já metendo o pé direito com toda a força na porta, arrebentando com fechadura e tudo o mais.
Lelinho começou a chorar, enroscando-se ns pernas da mãe. Os maiores não deram palavra. Gi também não. O cunhado foi embora. Entraram. Lá dentro, a mulher compreendeu que precisava fazer algo para aliviar o estresse do maridao.
- Mô, quer que lhe faça um chã?
Vavá respondeu que sim e foi pro quarto. Mas não deu um minuto e ouviu um barulho vindo da cozinha, como se alguém tivesse dado um murro na mesa.
- Que ‘porra’ é isso, mulher? – gritou lá do quarto.
- A ‘merda’ do gás...
- Cabou!

‘Rubens Nobrega’


Nota: Parece uma anedotra, mas foi real, aconteceu mesmo.

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