sábado, 29 de setembro de 2007

Processado por computador


– Pai, vou-te processar!
– O quê?
– Descobri na net que praticamente tudo pode ser alvo de um processo.
– E?
– E eu não gosto do meu nome...
– Desculpa?
– Nunca gostei... É nome de perdedora, de empregada domestica...
– Não digas disparates Marlene...
– Estou a falar a sério. De quem é que foi a ideia? Tua ou da mãe?
– Da tua mãe...
– Ok, podes provar? A mãe disse que foste tu que sugeriste...
– Eu? Olha a mentirosa, eu nem gosto do nome...
– Está a ver? Também não gostas...
– Não foi isso que eu disse...
– Claro, claro, mas olha, ela disse que pode provar e tem testemunhas?
– Ah, ah, ah! Deixa-me rir...
– A avó também disse que a ideia foi tua...
– Olha a ordinária!!!!
– Pai, cuidado com a língua...
– Eu sabia que não devia deixar-te passar tanto tempo na net...
– E então assumes?
– O quê?
– Que foste tu que escolheste o meu nome?
– Pronto, está bem, fui eu que escolhi... E daí?
– Vou processar-te por danos morais. O meu crescimento foi afectado pelo fardo de me chamar Marlene. Vou exigir uma indemnização
– O quê? Mas tu estás louca?
– Cuidado pai, ofensas verbais podem agravar a pena...
– Não me irrites se não eu ponho-te na rua e vais morar para debaixo da ponte...
– Além da indemnização vou exigir também a casa. Se te comportares deixo-te continuar a viver cá...
– Vai já para o teu quarto...
– Nada disso. Vou deixar-te aqui mail do meu advogado brasileiro. A partir de agora falas só com ele. Mas se quiseres ir acompanhando o teu processo mais detalhadamente podes consultá-lo na net. Ah, e só mais uma coisa. A partir de agora trata-me por Matilde.

Nuno Presa Cardoso
Director criativo da BDDO

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